Topo

Histórico

Categorias

O Primeiro Romântico

Você conta tudo ao parceiro ou esconde demais? É preciso ter a medida certa

Fabrício Carpinejar

08/09/2017 04h00

(Crédito: Getty Images/iStockphoto)

Quem fala tudo o que pensa na relação ou é cruel ou é preguiçoso.

É necessário editar as lembranças, excluindo antigos afetos e mantendo as informações relevantes de contexto e aprendizado. Basta recortar as pessoas das fotografias. Se conheceu Paris, apresente o que conheceu da cidade, jamais com quem esteve e o quanto aproveitou romanticamente. Assim a França não sairá do mapa do atual namoro e não provocará ciúme, despeito e frágil concorrência de memórias.

Tampouco pode ligar o modo terapia dentro de casa. Cama não é divã. Aquilo que conta ao psicanalista é higiene, são pressentimentos e hipóteses,  reclamações e medos, não significam fatos. Não repita o consultório como se isso representasse transparência. Consulta é individual, não tem como repassar a sabedoria indiretamente. Comunique os seus objetivos em vez de expor o processo e o rascunho. Arquivos temporários costumam desaparecer do computador.

Segredos e confidências de amigos, que não influenciam o destino do casal, também não devem ser partilhados. Amizade é amizade, e nem sempre o namorado ou a namorada tem intimidade para compreender a importância do silêncio e respeitar a confidência alheia. As fofocas surgem da simbiose do par. O amigo lhe confia algo que você confia a esposa/marido que confia aos seus respectivos amigos e todos dançarão a quadrilha de Drummond.

Assim como não é saudável contar tudo, é fundamental não omitir o que define o curso de seus pensamentos e decisões. Se está diferente por algum motivo, há a clara urgência de dividir.

Esconder preocupações traz desconfiança, já que o outro se sentirá automaticamente culpado pela sua tristeza – não custa se abrir e aceitar conselhos, mesmo que não sirvam para a ocasião.

Sofrer sozinho é soberba. Pergunte o que a sua companhia faria em seu lugar. Estabeleça empatia. Exerça a curiosidade.

Tenha cuidado igualmente para não asfixiar o ambiente amoroso com assuntos de trabalho. Lar não é filial do escritório. Selecione acontecimentos para ilustrar as tarefas que vem executando, não repasse a íntegra maçante do universo profissional. Relatórios soam enfadonhos, assim como não vale a pena reproduzir as picuinhas da hora do cafezinho da empresa.

Cultive o idioma do casal com brincadeiras, apelidos, indiretas e observações e mantenha a cumplicidade independente dos demais grupos de convivência. Repercuta os programas feitos a dois, acrescente o que realizou durante o dia, adicione o tempero da risada, olhe nos olhos, beije sem moderação e o ímã do equilíbrio protegerá os laços.

Amor é medida. Não sobrecarregar o relacionamento, nem jamais esvaziá-lo.

Sobre o autor

Fabrício Carpinejar é escritor e jornalista. Enquanto muitos se elegem como último romântico, ele se declara como o primeiro. Afinal, faz tempo que se prontificou a entender o amor em suas crônicas e poesias. Aqui você tem sua versão escrita, mas você pode conferir a sua versão falada em vídeos no YouTube: http://bit.ly/2sAu6xB

Blog O Primeiro Romântico