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O Primeiro Romântico

Podemos amar o outro e não gostar do outro; são operações diferentes

Universa

16/02/2018 05h00

Getty Images

O amor independe de suas características individuais.

É o mais absurdo mistério da vida, por isso que muitos se enxergam amaldiçoados pelo amor, dominados pelo amor e não entendem como são ligados por alguém totalmente diferente e que até lhe faz mal. E não conseguem desamar, apesar do desastre e da comprovação que não há nenhuma sintonia.

Claramente podemos amar o outro e não gostar do outro. São operação diferentes. Você ama, mas detesta o seu temperamento, o seu comportamento, as suas escolhas. Por qualquer coisa, briga. Por qualquer saída a restaurante e cinema, discute. Por qualquer conflito doméstico, seja a arrumação das roupas ou do quarto, entra em zona de atrito. Uma toalha molhada na cama passa a ser imperdoável, não existe o mínimo de tolerância e paciência.

Não impera a admiração para se adaptar às divergências. Não prepondera o senso de humor para achar bonito o defeito e criar ternuras da oposição. O que acontece, em ritmo sistemática e constante, é a cobrança –você identifica um estilo oposto ao seu e rejeita a toda hora.

Não terá calma e pausa para conversar, a chance de gritos e barracos são enormes, amigos e familiares estranharão a união doentia.

O amor veio sem gostar. O amor veio sem intimidade. O amor veio pelos caminhos ignotos do trauma e da rejeição, pela porta dos fundos, e não pela campainha da eleição das afinidades e dos projetos em comum.

Fica irritado só de ver a pessoa na sua frente. Nunca seria amigo daquela pessoa. Nunca convidaria para sua casa. Nunca contaria os seus segredos de modo consciente. Se dividisse o ambiente do trabalho, seria o colega de maior enfrentamento e disputa.

Num cruzamento de dados e perfis em agências de namoro, jamais estariam juntos.

Mas, por algum motivo secreto, ama verdadeiramente, sente falta verdadeiramente, tem uma atração física real, pode adoecer de saudade. Está namorando ou casado com quem ama de coração e, ao mesmo tempo, odeia mentalmente. Não aguenta a convivência e tampouco a ideia de permanecer longe.

Um relacionamento onde se ama e não se  gosta da companhia não tem como durar muito. Os vizinhos agradecerão a separação.

Sobre o autor

Fabrício Carpinejar é escritor e jornalista. Enquanto muitos se elegem como último romântico, ele se declara como o primeiro. Afinal, faz tempo que se prontificou a entender o amor em suas crônicas e poesias. Aqui você tem sua versão escrita, mas você pode conferir a sua versão falada em vídeos no YouTube: http://bit.ly/2sAu6xB

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