Fabrício Carpinejar http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br Fabrício Carpinejar é escritor e jornalista. Enquanto muitos se elegem como último romântico, ele se declara como o primeiro. Afinal, faz tempo que se prontificou a entender o amor em suas crônicas e poesias. Fri, 02 Mar 2018 08:00:13 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Você não nasce homem, torna-se homem; nascer de novo é a nossa obrigação http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/03/02/voce-nao-nasce-homem-torna-se-homem-nascer-de-novo-e-a-nossa-obrigacao/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/03/02/voce-nao-nasce-homem-torna-se-homem-nascer-de-novo-e-a-nossa-obrigacao/#respond Fri, 02 Mar 2018 08:00:13 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=186

Se você acha que o mundo anda muito feminista, não sabe nada de história (Getty Images)

Você acha que o mundo anda feminista, acredita que nem tudo é assédio, que o homem perdeu o direito da cantada, que as patrulhas são rigorosas, que as mulheres estão exagerando e criminalizando o amor?

Não entende nada de história. Até pouco tempo, as mulheres eram empregadas de seus maridos. Obrigadas a transar sem amor, sem conhecer o orgasmo, a satisfazer os caprichos masculinos, condenadas a cozinhar, cuidar dos filhos e faxinar a casa. Trabalhadoras sem remuneração. Ou seja, escravas.

Não ganhavam nada, apagadas e sufocadas. Apanhavam e caiam de escadas imaginárias, batiam os joelhos em quinas inexistentes, sofriam acidentes improváveis. Séculos e séculos de opressão onde não podia cortar o cabelo ou escolher o vestido ou usar uma calça. Quando discordavam, terminavam internadas em clínicas psiquiátricas como loucas e histéricas, recebendo eletrochoques e medicação pesada, para realmente ficarem sequeladas e fundamentar a mentira. Os maridos poderiam ter quantas amantes quisessem e esconder os filhos fora do casamento.

Não havia como se separar –devido à proibição do divórcio. Assim como o veto ao voto, assim como o veto ao cargo eletivo, assim como o veto ao concurso público para a magistratura e Ministério Público. Os homens faziam as leis para o próprio usufruto.

Mulheres tinham diploma, mas não contavam com o direito de exercer a profissão de igual para igual. As que conseguiam lugar ao sol de um abajur no escritório sofriam a sombra do abuso, hostilizadas constantemente, tendo que se calar para não serem demitidas por justa causa.

Não estou falando de filha e de netas, estou falando de mãe e de avós.

Por elas, por aquilo que sofreram, não há como mentir. O que está acontecendo ainda é pouco, ainda não é justiça, ainda não é retratação.

Ao descobrir o que passaram, sentirá vergonha de si ao olhá-las nos olhos.

Você não nasce homem, torna-se homem. Nascer de novo é a nossa obrigação.

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A fissura é o que gera namoros e casamentos http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/02/23/a-fissura-e-o-que-gera-namoros-e-casamentos/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/02/23/a-fissura-e-o-que-gera-namoros-e-casamentos/#respond Fri, 23 Feb 2018 08:00:25 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=180

Quando se gosta, procura-se sempre o tira-teima (Getty Images)

Uma única noite é insuficiente para amar. Pode até ser para um dos dois, mas não para os dois.

Um relacionamento nunca se limita a uma transa. Você pode romantizar, alegar que não existiu nada igual, justificar a atração explosiva. Mas uma noite definitiva requer uma segunda noite. O sexo isolado, sem sequência, significa que não houve paixão, não houve algo mais, que não vingou a promessa e a esperança.

Quando se gosta, procura-se sempre o tira-teima. Você quer saber se não é alucinação e se realmente é verdade o impacto da química. Busca confirmar as expectativas. E não demora muito para acontecer. Será na mesma semana. A ansiedade aumenta o desejo. Encontros esporádicos e espaçados não revelam permanência. A fissura é o que gera namoros e casamentos.

Se alguém me diz que a relação vai se segurar com apenas uma saída, não acredito. Ainda que elogie a própria perfomance e destaque a selvageria da entrega. Os efeitos foram unilaterais. Pode existir o agrado, o bem-estar, mas não a crença da cara-metade de uma das partes.

Para conquistar o outro, é necessária a reincidência sexual. O que talvez tenha acontecido é a transa pelo climão, pelo contexto favorável, o que é muito comum.

Estavam bebendo, livres e inconsequentes, e se arriscaram na cama. Estavam carentes e ousaram se experimentar. Estavam numa festa ou balada, curiosos, nada incomodando, anestesiados pela felicidade, e não viram problema de tentar. Só que não seguirão adiante, o coração não estalou depois do ato.

Porque, para amar, não basta os corpos se encaixarem, depende do encaixe das palavras, das afinidades e do silêncio.

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Podemos amar o outro e não gostar do outro; são operações diferentes http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/02/16/amar-e-gostar-sao-operacoes-diferentes/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/02/16/amar-e-gostar-sao-operacoes-diferentes/#respond Fri, 16 Feb 2018 07:00:15 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=172

Getty Images

O amor independe de suas características individuais.

É o mais absurdo mistério da vida, por isso que muitos se enxergam amaldiçoados pelo amor, dominados pelo amor e não entendem como são ligados por alguém totalmente diferente e que até lhe faz mal. E não conseguem desamar, apesar do desastre e da comprovação que não há nenhuma sintonia.

Claramente podemos amar o outro e não gostar do outro. São operação diferentes. Você ama, mas detesta o seu temperamento, o seu comportamento, as suas escolhas. Por qualquer coisa, briga. Por qualquer saída a restaurante e cinema, discute. Por qualquer conflito doméstico, seja a arrumação das roupas ou do quarto, entra em zona de atrito. Uma toalha molhada na cama passa a ser imperdoável, não existe o mínimo de tolerância e paciência.

Não impera a admiração para se adaptar às divergências. Não prepondera o senso de humor para achar bonito o defeito e criar ternuras da oposição. O que acontece, em ritmo sistemática e constante, é a cobrança –você identifica um estilo oposto ao seu e rejeita a toda hora.

Não terá calma e pausa para conversar, a chance de gritos e barracos são enormes, amigos e familiares estranharão a união doentia.

O amor veio sem gostar. O amor veio sem intimidade. O amor veio pelos caminhos ignotos do trauma e da rejeição, pela porta dos fundos, e não pela campainha da eleição das afinidades e dos projetos em comum.

Fica irritado só de ver a pessoa na sua frente. Nunca seria amigo daquela pessoa. Nunca convidaria para sua casa. Nunca contaria os seus segredos de modo consciente. Se dividisse o ambiente do trabalho, seria o colega de maior enfrentamento e disputa.

Num cruzamento de dados e perfis em agências de namoro, jamais estariam juntos.

Mas, por algum motivo secreto, ama verdadeiramente, sente falta verdadeiramente, tem uma atração física real, pode adoecer de saudade. Está namorando ou casado com quem ama de coração e, ao mesmo tempo, odeia mentalmente. Não aguenta a convivência e tampouco a ideia de permanecer longe.

Um relacionamento onde se ama e não se  gosta da companhia não tem como durar muito. Os vizinhos agradecerão a separação.

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Na relação, o ciúme mais poderoso decorre da lealdade aos amigos http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/02/09/na-relacao-o-ciume-mais-poderoso-decorre-da-lealdade-aos-amigos/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/02/09/na-relacao-o-ciume-mais-poderoso-decorre-da-lealdade-aos-amigos/#respond Fri, 09 Feb 2018 07:00:16 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=164

Os amigos podem comparar o novo par com os antigos e definir quem é o melhor (Getty Images)

O maior ciúme dentro da relação vem das amizades do casal.

Não é por um elemento externo, novo, surpreendente, capaz de ameaçar o romance e despertar a infidelidade.

O ciúme mais poderoso decorre da lealdade. Dos amigos que cada um tem.

Você não aguenta a possibilidade de alguém de fora saber mais de quem você ama, conhecer melhor quem você ama. Vê-se corneado pelas camaradagens, risadas e piadas internas. É a sombra das experiências que atrapalha. Afinal, os amigos são os únicos que podem comparar o novo par com os antigos e definir quem é o melhor. Eles possuem o domínio do passado e do presente –enquanto você apenas conhece o presente.

Odeia a possibilidade de julgamento e se mobiliza ou para transformá-los em aliados ou para combatê-los como terríveis inimigos.

Não faz por mal, mas acaba fazendo o mal.

O primeiro impulso é neutralizar os jurados do amor, roubar os álibis do namorado ou namorada, para garantir a supremacia e controle sobre a situação. Busca se aproximar, agradar e bajular para se converter em fonte confiável e desfrutar de acesso às mesmas informações. É a época de presentes e da lua-de-mel da socialização com almoços, jantares, bares e baladas.

Quando não dá certo, afinal a intimidade da amizade não tem como ser violada e não descobrirá o que falam entre si, tenta destruir reputações e tirar a credibilidade dos mais próximos. Passa a criticar as saídas, os encontros do esporte e as visitas fora de hora. Inventa fofocas para eliminar os rivais e reduzir a frequência dos laços.

Seu objetivo involuntário é ser mais amigo do que os amigos e evitar a concorrência.

Como você ama excessivamente, deseja ter o seu parceiro somente para si e não repartir com os demais.

Portanto, não é o sexo fora do relacionamento que preocupa, porém as confidências. O corpo não é o objeto das discussões, e sim o destino do coração.

O ser amoroso é um bicho estranho. Ele sente ciúme do que está sendo repassado adiante. Angustia-se com as aparências e as versões construídas nas conversas paralelas. Quer censurar, restringir, boicotar o repasse dos segredos. Compra briga com os conselheiros do outro para se manter como sócio majoritário nas decisões da vida.

Os melhores amigos, coitados!, são os que mais apanham no início de um namoro. Natural que sejam investigados e sabatinados até o casamento, quando são convidados a serem padrinhos por merecimento a tamanha neurose.

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O indecifrável perfume feminino http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/02/02/o-indecifravel-perfume-feminino/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/02/02/o-indecifravel-perfume-feminino/#respond Fri, 02 Feb 2018 10:47:15 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=160  

Mesmo o cheiro de quem se ama pode ser um mistério… (Foto: Getty Images)

Se você não define qual o perfume que a sua mulher usa, não entre em pânico. Não é desinteresse. Não é desamor. Não é má vontade. Não significa que não presta atenção ou o que o seu olfato é falho.

Por mais que a namorada ou a esposa jogue em sua cara a desinformação, como se fosse uma lacuna grave de devoção, como se estivesse cometendo um crime e esquecendo a data que se conheceram, o nascimento dela, o signo.

O universo feminino faz de propósito para sacanear os seus homens. É uma cilada ancestral, elas contam com o erro para obter vantagem, alimentar culpa, e exercer o poder sobre os mais fracos.

Não há como saber. Eu passei muito tempo me recriminando, sentindo-me um farmacêutico incompetente, um laboratorista fracassado.

Como a minha mulher tem três perfumes, pensava que me confundia com a frequência alternada. Guardava os nomes, mas não acertava o dia deles. Fiz experimento em meu pulso com as fragrâncias para memorizar, tampouco fixei o olor. Surgia diferente na pele dela.

Foi quando percebi o óbvio: o excesso me embaralhava. Nem cheirando grão de café seria capaz de limpar o faro e desenredar o enigma.

Não era um único cheiro a ser decifrado, mas vários. Tem o cheiro de xampu e do condicionador no cabelo, tem o cheiro do sabonete líquido, tem o cheiro de creme pra mão, tem o cheiro de creme pra cutícula, tem o cheiro do óleo para cotovelos, tem o cheiro da loção para o pé, tem o cheiro do protetor para o rosto, afora os produtos especiais de combate à estrias e rugas que todas têm.

Não há como descobrir o perfume mesmo. É uma charada. O que nos resta é pular a pergunta no quiz-show do amor.

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A chatice dos casados http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/01/26/a-chatice-dos-casados/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/01/26/a-chatice-dos-casados/#respond Fri, 26 Jan 2018 10:50:20 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=154

Os casados sentem a necessidade de um par para completude (Getty Images)

Os amigos casados não podem ver um amigo solteiro. É uma ameaça à estabilidade. Logo entram em parafuso para arrumar um perfil disponível no mercado e mudar o estado civil do conhecido. Plantam coincidências, forçam saídas a quatro, armam ciladas em jantares e festas. Não admitem alguém sozinho no círculo de relações. Afogam o santo Antônio da paciência em cálices de vinho e espumante.

Os encontros arranjados jamais vingam. Pois a atração surge pelos defeitos do outro, não pelas suas qualidades. Eleger um perfil pelas afinidades resultará, no máximo, em uma amizade. Pois o amor é oposição, a exceção, a quebra da regra.

Os amigos casados se transformam em aplicativos de namoro. Tinder. Happn. Não descansam ao procurar candidatos para desencalhar o colega.

Criam uma pressão descomunal, não reconhecendo que ser solteiro é uma escolha. Parece uma incompetência, uma doença social, uma completa falta de opções e de dotes.

Não absorvem o básico: qualquer solteiro tem discernimento para se virar e conseguir companhia, não depende de ajuda, caridade e compaixão. Está sozinho simplesmente porque vive melhor assim.

Mas os casados incomodam, talvez por inveja, talvez por insegurança, talvez para não pensar na fragilidade de seus próprios romances. Realizam bullying com brincadeiras sistemáticas e piadas agressivas, tais como “segurar vela”.

Quem é solteiro ou é taxado de boêmio e sedutor incorrigível, desprovido de seriedade, que não toma jeito, ou é um bicho isolado e depressivo, que não quer sair, trancado em casa, somente preocupado com a carreira.

Os casados são chatos. Entendem a liberdade como tolhimento. Sentem a necessidade de um par para completude, quando a individualidade já é inteireza, já é suficiente para transbordar.

Partem do princípio equivocado de que só a pessoa que casou ou tem filhos pode ser feliz. Qualquer outra condição é provisória. A solteirice é percebida como uma entressafra até namorar de novo. Um período de sofrimento e desinteresse, um castigo de antigas histórias frustradas. Aquele que não namora imediatamente sugere ainda sofrer pelo relacionamento passado, o que não é verdade. Quem diz que não está cansado mesmo, enjoado, não querendo negociar o seu prazer e as suas manias, com diferentes fontes de alegria?

Três anos sem ninguém fixo costuma ser interpretado como uma maldição, uma fatalidade, um desterro.

O amor é o único sentimento que não tem fiador. Você constrói o prédio para habitar.

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Dizer não é uma prova de amor http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/01/19/dizer-nao-e-uma-prova-de-amor/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/01/19/dizer-nao-e-uma-prova-de-amor/#respond Fri, 19 Jan 2018 10:00:55 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=151

Não aceitar o não é a mais grave falha do amor. Não haverá amadurecimento sem a negação. A discordância é benéfica e deve ser praticada um pouco por dia, por mais desgastante que seja o cotidiano doméstico. 

 

É quando deixamos de ser o filho mimado e passamos a entender e respeitar que a outra pessoa pensa e sente diferente. Talvez o grande segredo da longevidade afetiva signifique dividir as contas e os problemas, jamais pretender passar uma versão melhor do que realmente se é. Está sem dinheiro: procure solução em conjunto. Não peça empréstimo em segredo. Está sem vontade: explique o que está acontecendo, quais são as preocupações dominando a mente. Não fuja do contato visual. 

 

A teimosia é egoísmo. A teimosia substitui a compreensão, elimina a escuta, descarta a empatia. 

 

A teimosia é a crença de que você pode resolver sozinho e não precisa de ninguém. Se não precisa de ninguém, por que está casado? Precisar é confessar a importância de quem nos acompanha e recorrer a uma segunda instância dos desejos. 

 

O não acaba sendo a medida da saúde do casal. Quanto mais não mais realidade. É não comprar tudo o que se quer, é não fazer tudo o que ambiciona, é não realizar tudo – isso é crescimento pessoal. É negociar entre o possível e o ideal a todo momento dentro de si. 

 

Quem só quer agradar e ser agradado não saiu da infância e da birra maternal. Aceitar a recusa é aceitar a verdade. É admitir que não controla a vida, muito menos a opinião alheia. 

 

O risco é se anular para alguém se sobressair: amar pelos dois, elogiar pelos dois, esconder os males pelos dois, desculpar-se pelos dois. 

 

Sei que terei o dobro de trabalho em casa para explicar para minha mulher o valor de minhas escolhas. Mas não vivo mais sozinho para escolher à revelia de seu apoio. Eu continuo optando, mas com o seu apoio ou com sua oposição. Sua aprovação ou desaprovação me ajuda a avaliar melhor. É uma resistência fundamental para testar se o que procuro é sonho ou capricho. Agradeço o seu não assim como me envaideço do seu sim. 

 

O homem costuma escolher sozinho para apenas repartir as consequências quando não alcança o seu objetivo. O correto é partilhar a origem das vontades, desde a raiz, para não surpreender negativamente a parceria com decisões unilaterais, sem boicote, sem conspiração. 

 

Configura deslealdade não expor os movimentos do pensamento. E o homem não fala com medo de ser recusado, de não conseguir mais cumprir o seu projeto. Que enfrente a vaia no camarim porque depois no palco não tem como mudar a peça. 

 

A adoção do amor como conto de fadas faz com que um dos dois se torne submisso para esconder os defeitos e as imperfeições do relacionamento. 

 

Quem não consegue acolher o não do seu namorado ou namorada ou se seu marido ou esposa vai criar uma simbiose sombria. Porque não existirá independência, mas adulação. Não existirá discernimento e soma de duas personalidades, mas a exploração do mais forte sobre o mais fraco. 

 

Dizer não é uma prova de amor. Receber o não é o milagre do amor. 

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O que a amante precisa saber: se ele mente para ela, mentirá para você http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/01/12/o-que-a-amante-precisa-saber-se-ele-mente-para-ela-mentira-para-voce/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/01/12/o-que-a-amante-precisa-saber-se-ele-mente-para-ela-mentira-para-voce/#respond Fri, 12 Jan 2018 10:00:28 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=145

O infiel dificilmente pedirá o divórcio. Aliás, o caso faz com que o casamento dure ainda mais (Foto: iStock)

O que a amante precisa saber: se ele mente para uma mulher, mentirá para todas. Se ele destrata uma mulher, destratará todas. Se ele esconde algo de uma mulher, esconderá de todas. Se ele não se importa com o que os conhecidos comentam sobre a sua mulher, nunca se importará em preservar e proteger qualquer outra.

Não existe verdade unilateral. Não existe conversão. Não existe aquela máxima salvadora: “comigo será diferente”. Não existe exceção, que é somente fiadora de desastres.

O infiel dificilmente pedirá o divórcio. Aliás, o caso faz com que o casamento dure ainda mais, porque confere um lazer e um entretenimento adicionais para uma rotina regrada. Não escolher é manter as opções. A aventura acaba fortalecendo a imobilidade: por que mudar se tenho tudo o que quero?

A questão central é que ele mente mal e você, amante, é generosa em ouvir e crédula em aceitar. A separação é iminente e nunca acontece, não é estranho? E os motivos para o perpétuo adiamento são sempre iguais: ou a mulher está doente ou ela depende financeiramente dele ou não encontrou o momento certo ou os filhos não aceitarão bem o desenlace ou enfrenta um momento delicado no trabalho.

É evidente que ele nunca vai se separar, desfruta de uma situação cômoda. Homem apaixonado não pensa, joga o compromisso para o alto e depois assume as consequências. Quem calcula demais fundamenta o medo e não se joga no precipício – é um estrategista do abandono de causa.

Quando a relação passa da quarta noite e não há mudança, ele não romperá nenhum vínculo. Ou ele perde a cabeça nas primeiras semanas ou jamais terá o coração dele.

Não se engane com as juras fartas. Aquele que promete acertar as contas e que reclama do casamento está faltando com a verdade: quem diz que ele não vem transando seguidamente com a mulher e se divertindo em casa? Conta apenas com a sua desinformação para seguir com a impunidade da vida dupla. Isso quando não tem segunda e terceira amantes e se arma da confusão para não amar ninguém.

Os encontros podem garantir satisfação na hora, porém desgastam a esperança, criam insalubridade emocional e arrastam personalidades fortes para a desvalia e depressão. Não dá para ser clandestino e feliz durante muito tempo.

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Há pessoas que só sabem amar se separando e voltando http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/01/05/ha-pessoas-que-so-sabem-amar-se-separando-e-voltando/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2018/01/05/ha-pessoas-que-so-sabem-amar-se-separando-e-voltando/#respond Fri, 05 Jan 2018 10:00:34 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=142  

Ou você se salva ou salva o relacionamento. Quem já não passou por esse duro dilema? 

 

Entre se afogar e voltar para a margem. Entre deixar à deriva quem você gosta ou manter a sua vida dentro dos limites da sanidade. 

 

E sempre sofrendo pela ternura desperdiçada, sempre penando por sacrificar uma manifestação sincera de apego. 

 

Há romances que não nasceram para a felicidade. Por mais difícil que seja aceitar essa irreversibilidade. São intensos, passionais, selvagens, porém inviáveis socialmente. É como namorar com Mogli numa cidade grande e tentar usar os talheres. 

 

Porque há pessoas que somente sabem amar pela violência das rupturas. Só sabem amar se separando e voltando. Não aceitam outra forma de dependência senão pelo grito. 

 

Têm uma noção de amor como briga, estremecimento, discussão. Viveram na infância sob o jugo de pais quebrando os pratos e batendo boca e não entendem os laços na frequência da gentileza e da concordância. Enxergam o entendimento como submissão. 

 

Se tudo está bem é que está mal. Se tudo está calmo é que está entediante. 

 

Logo arrumam uma bronca para tornar a rotina mais excitante. Mesmo que seja uma suspeita inventada. 

 

Transam unicamente com vontade após chantagens e ameaças de despedida. O sexo é uma demonstração de poder e possessividade, não de confiança e carinho. A intimidade precisa ser testada para oferecer liga. O ódio costuma vir à tona para renovar a atração. 

 

Você tem aquela dúvida constante  se vem sendo amada ou odiada, se ele lhe deseja mesmo ou recorre ao pretexto da carne para lhe ofender na cama. 

 

Não existe jeito de contentar o tipo que se relaciona somente pela guerra. Nunca ficará saciado. Você pode fazer todos os caprichos e não será suficiente. Pois ele age por crises e surtos periódicos, usando os melhores sentimentos para justificar as piores atitudes. É treinado para a tortura psicológica, para o jogo de nervos. Não senta para discutir, não tem paciência, logo se levanta virando as costas e esmurrando as portas. Por uma banalidade, cria uma epopeia para a sua raiva. 

 

Um ano ao lado de alguém assim é o equivalente a uma década de casado. 

 

Não me arrisco a dizer se o amor termina, mas guardo a convicção de que ele cansa. 

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Quem diz que não se arrepende de nada não tem autocrítica http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2017/12/29/quem-diz-que-nao-se-arrepende-de-nada-nao-tem-autocritica/ http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/2017/12/29/quem-diz-que-nao-se-arrepende-de-nada-nao-tem-autocritica/#respond Fri, 29 Dec 2017 10:00:33 +0000 http://fabriciocarpinejar.blogosfera.uol.com.br/?p=138

Não acredito em quem diz que não se arrepende de nada na vida. Ninguém acerta sempre. Não se arrepende ou não quer admitir que falhou alguma vez? Não se arrepende ou é orgulho enrustido? Não se arrepende ou receia mexer nas feridas? Não se arrepende ou não pretende desabafar? Não se arrepende mesmo ou não deseja passar a imagem humana, honesta, defeituosa para os mais próximos?

Quem não se arrepende de nada não é que aceitou a vida do jeito que ela veio. Não é serenidade. Não é maturidade. É tão somente falta de autocrítica.

Eu me arrependo. Não sou um semideus para não ter rascunhos. Eu tropecei feio dentro de mim, eu troquei os pés pelas mãos, eu menti, eu fui desleal. E pedi desculpa, retratei-me e jamais me envaideço dos meus enganos. Não empregarei desculpas retroativas, a amnésia é uma proteção do ressentimento.

O perdão não deleta o que cometi de torto em minha trajetória, os fatos ruins continuarão existindo como um marco de meus problemas, um limite de minha sanidade, um exemplo para não repetir e magoar os outros.

Guardo um espelho dos fracassos pessoais no lado interno do armário das lembranças – espio de vez em quando para não perder o prumo.

As decepções perseverarão na memória,  apesar de resolvidos todos os impasses. Não há ainda borracha para apagar o que foi escrito com o sangue.

Poderia ter sido melhor pai, poderia ter sido melhor filho, poderia ter sido melhor marido, poderia ter sido melhor amigo. Deixei gente na estrada com a pressa de andar e ser feliz sozinho, abandonei quem amava na ânsia das certezas.

Se eu pudesse voltar atrás, não faria de novo. Sei exatamente o que precisava modificar em meu comportamento, com datas e horários. O pecado também usa relógio.

Uma coisa é errar, processo natural e previsível de nossa condição sujeita a acasos e provações permanentes, uma bem diferente é não manter a consciência do erro pelo resto dos dias.

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