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O Primeiro Romântico

Não deseje estar na pele de uma pessoa sensível: é um tormento

Universa

24/11/2017 08h00

 

Conviver com pessoas sensíveis é uma proeza. Tem o lado ruim. Elas farejam uma briga na véspera do desentendimento. Pescam no ar que as coisas não estão bem. A palavra nem ficou torta e já notam a insinuação da curva na linguagem. Discutem por premonições, na ânsia de resolver crises antecipadamente. Flagram os problemas por imperceptíveis mudanças de hábitos. Não aguardam a eclosão da raiva, a pétala do ódio, colhem as folhas como se fossem flores. São antenas das ações dos mais próximos. Intuem o estranhamento e já puxam o assunto: Você não está legal, né?

O sujeito em questão ainda não tem consciência da esquisitice, sempre acaba informado por sua companhia. É algo que vai acontecer dali a dois dias, mas o sensível notou a diferença com larga antecedência.

Pela sintonia incomum com o outro, os sentimentos correm mais rápido nos olhos. Parece que o sensível está normalmente puxando briga, porque nunca descansa em observar, comparar e questionar. Jamais relaxa, jamais põe o seu instinto a dormir. Adivinha mais do acredita naquilo que escuta.

Arca com o preconceito da profecia. Pois o profeta é culpado socialmente também pelas catástrofes que anunciou. Se ele enxerga uma enchente, mesmo sendo inocente de qualquer envolvimento, torna-se responsável por não ter feito nada para conter as águas.

Na intimidade então, é muito mais grave, o adivinho não conta com a compreensão de ninguém. O sexto sentido não ajuda o relacionamento, somente atrapalha.  Prevenir é incomodar e chamar as crises para perto.

O sensível passa a ser taxado de louco e paranoico, porque usa a emoção como fiadora de suas atitudes. Por exemplo, é capaz de captar o interesse de seu namorado ou namorada por alguém com uma antecedência assustadora, somente pelo jeito que menciona o nome em casa. Seu dom é confundido com a natureza de um defeito e de constante ameaça. Assim começa a ser visto apenas como ciumento. E um ciumento sem motivos.

Não há provas, não há infidelidade, não há dados concretos, existe unicamente a percepção quase sobrenatural de uma atração se desenvolvendo para justificar a desconfiança.

Não deseje estar na pele de um sensível. Ele sofre o dobro antes para não sofrer na hora.

Sobre o autor

Fabrício Carpinejar é escritor e jornalista. Enquanto muitos se elegem como último romântico, ele se declara como o primeiro. Afinal, faz tempo que se prontificou a entender o amor em suas crônicas e poesias. Aqui você tem sua versão escrita, mas você pode conferir a sua versão falada em vídeos no YouTube: http://bit.ly/2sAu6xB

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