Viajar em casais é um inferno imprevisível
Não recomendo viajar com casal de amigos. Será uma lua-de-mel ao contrário. Nunca é agradável, com raras exceções.
Em vez de relaxar, atravessará uma tensa terapia coletiva, consolando, dando conselhos e procurando relativizar a crise.
Você desejava ardentemente descansar, pôr os pés para cima numa rede e somente se incomodará, arremessado para uma zona de guerra e precisando negociar com sequestrador para atender exigências extravagantes e liberar reféns.
Quando não é você que briga com a sua companhia, é o outro casal que se desentende por uma bobagem. Um emburrece, embirra, trava e já deseja antecipar a volta para casa.
Sempre acontece um mal-estar do nada, suspendendo passeios, cortando festas pela metade e aguando o café da manhã.
Viajar em casais é um inferno imprevisível. Talvez a convivência com modelos diferentes de afetos gere incontrolável inveja. Os casais começam a se comparar, a fiscalizar as atitudes, a vigiar a quantidade de beijos e afagos, a determinar quem é mais ou menos feliz.
São naturais comentários como "viu o jeito que ele trata ela?" ou "ela não se mexe para a relação!"
Quanto maior o percurso, maiores os danos e as possibilidades de atrito.
Depois do escândalo e do cansaço psicológico do drama, quem discute logo faz as pazes, esquece a rusga, mas não percebe que estragou o final de semana e as férias. Repassou apenas adiante o infortúnio: estragou o ânimo e a confiança dos demais. É um efeito dominó, as peças da racionalidade vão caindo em sequência, abrindo espaço para catarse, aborrecimentos e ataque de nervos.
E quando não ocorre nenhuma discussão evidente, aflora o contraste de personalidades e de dinâmica. Existirá um par amoroso hiperativo que baterá no seu quarto às 5h30 para não perder o amanhecer na praia. Você foi lá para dormir até mais tarde, namorar calmamente, com um objetivo absolutamente divergente dos seus companheiros de estrada, e sofrerá para negar expectativas de suor, caminhada, trilhas e aventuras.
Viajamos em casais pela nostalgia das excursões de turma da escola. Com a diferença de que não há professores para abafar as confusões e resolver os impasses.
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